Eu te amo, mas não sei como falar, como explicar, como agir, sei lá.
Você murmura qualquer coisa e eu já tremo o cu de tanto nervosismo que a tua presença me causa. Me leve daqui. Me leve com você. Venha comigo. Por mim, a gente pode ficar aqui, quietinhos dividindo sorvete, cerveja, edredom e sonhos. Tanta faz a cama e o colchão. Você se importa tanto com isso?
Dia desses, eu tentei de esquecer de vez. Juro. Mas ai eu percebi que matar você em mim é o mesmo que morrer e continuar vivendo, sabe? Passaria o resto dos meus dias como zumbis recheado de dor e entalado de lembranças do que nunca viveu. Então, não morra não. Não antes de eu dizer que te amo.
Não antes de você dizer isso para mim, também. Ou que vai pensar no meu caso. Ou que ficará aqui comigo. Sei lá. Não se vá - nem para o céu, nem para a Nova Guiné - sem me dar mais uns minutos de esperança, uns carinhos no queixo e um descanso em teu ombro.
Olha aqui vai. Eu tô embolando as palavras, eu sei. Não porque eu sou confusa. Ok, eu sou confusa. Mas nem sempre. Não agora. Tá, agora eu posso estar um cado confusa. Mas é porque amar é, ao mesmo tempo, ter um dicionário a falar e não saber como. É como se meu cérebro desaprendesse qualquer idioma tolo. E eu fico aqui, gesticulando vírgulas que exigem sua presença um pouco mais.
Por favor, fica!
Fica, vai!
Nesta semana, você anda tão triste que me aperta a alma. E eu não sei se você sabe, mas se estivesse comigo, cê seria mais feliz. Juro. Deu na TV, nos jornais, no tarot, no horóscopo, nas músicas e nos livros que ando lendo. Você gosta de ler, eu sei. Comecei a gostar porque vi você no ônibus viajando mais rápido naquelas páginas do que aquele motorista ruim de roda que faz o veículo parecer uma montanha russa. Sim, eu estava naquele ônibus. Dois bancos atrás de você.
Não, não estou te perseguindo.
Mas a gente sai a mesma hora da faculdade e minha casa fica á dois quarteirões da sua. Não sei onde você mora. Mas é que você sempre desce no mesmo ponto e vai para a mesma portaria que imaginei que ali fosse a tua casa.
Eu estou falando feito uma doida, sem vírgulas ou pausa, inventando assuntos quaisquer porque estou morrendo de medo do silêncio oceânico que pode surgir e você desviar teus olhos dos meus, reparar na vizinhança, naquele moço de gravata cinza ou na senhorinha dando comida aos pombos, e, talvez, você reparando no moço de gravata cinza e na senhorinha dando comida aos pombos possa pensar que já não há mais nada á fazer aqui e decida ir embora porque não gosta de cinza, nem de pombos, nem de mim. Sei lá.
Cê tá com fome? Eu tenho um par de lábios e um tanto de sonhos que podem de alimentar. Juro. Como faz aquele macarrão que você gosta? Eu posso aprender, também. Mas te amo. E amar, além de ser algo que me deixa mais confusa, nervosa e gaga, deve ser aprender a ser a mestra dos desejos do outro. Assim, só pra te agradar, sabe? Isso é amor. Você sabe. Ou acho que sabe. Mas, de qualquer forma, gostaria que soubesse que eu te amo. É, amor. Sem aqueles coraçõeszinhos infantis da quarta série. Ou musiquinha bonitinha por aqui. É amor. Ponto.
Entendeu alguma coisa? Não? Ok, perfeito assim. Se você entendesse, eu ficaria triste por ter conseguido explicar algo sem explicação. E é isso: de onde eu vim, sentimentos inexplicáveis, mas explicam todo o resto. Amor é um sem sentido sentir e dar sentido a tudo.
E este tudo, agora, é você. Juro.
Obs: Acervo Pessoal (textos que recolho pela internet, não necessariamente de minha autoria)